plural

PLURAL: os textos de Atílio Alencar e Fabiano Dallmeyer

  • O Mauá
    Atílio Alencar
    Produtor cultural

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    Há coisa de muitos anos, ao meio da primeira década deste século, eu morei no edifício Mauá, ali onde cruza a Rio Branco e a Silva Jardim. Já havia frequentado, embora disso não guarde lembranças muito claras, algumas festas de repúblicas estudantis nesse símbolo arquitetônico de Santa Maria. Mas foi só depois de concluída a faculdade, entretanto, que eu viria a dividir com alguns amigos um amplo apartamento no quarto andar, onde habitei um dormitório maior do que certas casas em que vivi antes. Para quem experimentou uma temporada nos acanhados cômodos da Casa do Estudante, o Mauá representava, a bem dizer, um condomínio de luxo. Era outro nível de decadência, além do privilégio antropológico de habitar o centro histórico da cidade. Faltaria sensibilidade ao observador que, olhando aquele monumento em art déco, não visse ali um vulto singular da cidade.

    O Mauá está agora um senhor idoso, mas ainda conserva, quem sabe até mais aprimorado pelo charme da idade, um certo ar modernista a la Copacabana nos anos 50 - como calhou de notar uma amiga pernambucana deslumbrada com a geometria elegante do edifício. Se é verdade que ali não chega a brisa do mar afagando as cortinas, em compensação os dias de ventania obrigam os moradores a fechar portas e janelas para evitar o vôo dos objetos domésticos. Rua abaixo, a quadra segue ostentando construções que são relíquias do patrimônio histórico local; somadas, formam um conjunto de valor cultural formidável, embora constantemente acossado pela ala mais voraz e utilitária do empreendedorismo imobiliário. A tal "força da grana que ergue e destrói coisas belas", como cantou Caetano, não é nada metafórica. Quem vive aqui é testemunha de como esse verso é uma legenda precisa para os negócios afoitos que descaracterizam a cidade.

    Gosto de pensar que edifícios como o Mauá são personagens vivas da nossa história urbana. Possuem identidade, estilo e humor próprios, que atraem ou repelem os possíveis moradores pela atmosfera que projetam, pelo modo como ocupam o espaço, pela imagem que desenham no ar. É preciso sentir alguma afinidade com eles para defendê-los e querê-los intactos; ao contrário, há quem simplesmente antipatize com essas construções, como se fossem navios encalhados no porto, impedindo o fluxo eficaz do ir e vir das mercadorias. Eu, como já deve ter adivinhado o leitor, sou dos que preferem a permanência ao desaparecimento do que constitui a nossa paisagem histórica.

    Quando revisito o Mauá, ainda que o faça como um voyeur no meio da avenida, é como se reencontrasse um velho amigo, com quem compartilhei madrugadas em claro, confissões apaixonadas e garrafas pela metade, enquanto os lençois na janela lançavam declarações de amor pela cidade. Gosto que ele esteja ali, e confio nas histórias que me conta, sempre a evocar ventos enfeitados pela lembrança. Essa histórias, afinal, me fazem lembrar da juventude - essa vontade de ser para sempre, que, quando piscamos o olho, já passou.

    Clubhouse
    Fabiano Dallmeyer
    Fotógrafo

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    Lançado em abril de 2020, o aplicativo Clubhouse já tem mais de dois milhões de usuários, e é a febre do momento. Um pouco dessa utilização em massa pode ser explicada pela curiosidade e o tom de seleto para algumas pessoas, isso porque só pode ser acessada por convite e até o momento apenas quem usa sistema IOS pode fazer uso das suas funcionalidades. Uma rede social de áudio. Sem conversas escritas, ou vídeo. Quem acessa pode participar de conversas, ouvir entrevistas e debates sobre os mais diferentes assuntos. Também é possível criar sua própria sala, para conversar sobre o assunto que bem entender. O conceito é a junção entre podcast e chamada telefônica. As salas são ao vivo, e não são gravadas, sendo inclusive uma das cláusulas do contrato de utilização da plataforma, quem infringe a regra pode ser banido.

    Apesar de estar disponível há algum tempo, foi uma conversa entre Elon Musk, o fundador da Tesla e Vlad Tenev, CEO da Robinhood que tornou o aplicativo popular. O limite da sala foi atingido, com cinco mil pessoas ouvindo. Durante essa conversa, Elon fez um apelo para que as pessoas utilizassem o Clubhouse, "a alteração de contexto é o assassino da mente", disse ele.

    O PROJETO

    Desenvolvido por Paul Davidson e Rohan Seth, foi lançado em abril de 2020. Em dois meses, eram mil e quinhentos usuários, e pouco mais de 100 milhões de dólares de valor. Em fevereiro de 2021, já eram mais de dois milhões de usuários e o valor atingia um valor considerável, superior a um bilhão de dólares. Ainda exclusiva para quem tem IOS, por ser uma versão beta (testes), os criadores já anunciaram que abrirão a plataforma para Android ainda no primeiro semestre de 2021.

    Com o nascimento do Clubhouse, surgiu também um negócio paralelo, a venda de convites. Em todos os países do mundo há convites a venda, incluído a China, onde um convite poderia valer entre 150 e 400 yuans (120 e 320 reais aproximadamente, já foi proibida em todo o território Chinês, retirando a possibilidade de comunicação de profissionais da tecnologia e de pesquisadores. Vale lembrar que essa proibição não é exclusiva do Clubhouse, todas as redes sociais são proibidas por lá.

    SALAS BRASILEIRAS

    São diversas as salas abertas todos os dias pelos usuários brasileiros. Temas com teor profissional ou de entretenimento são os principais. Como em ambiente "real", da rua, existem salas acontecendo ao mesmo tempo, onde uma ataca o governo e outra onde defendem o governo. Quando acabo entrando em uma dessas, lembro-me da frase do Elon, "a alteração de contexto é o assassino da mente". Sem maiores comentários.

    Uma das salas que frequento quando quero dar boas risadas - algo que precisamos nesses períodos de pandemia! - é denominada "ImproSilvios", onde os criadores são - como o próprio nome indica - imitadores do Silvio Santos, mas não é exclusivamente alusiva ao homem do SBT, neste grupo circulam "Pica Paus", "Homer Simpons", "Galvão Buenos" e outros profissionais (ou não) da voz. É muito legal ouvir ou conversar com as vozes que conhecemos da TV. 

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